Quatro empresários foram presos hoje suspeitos de integrarem uma quadrilha especializada em lavagem de dinheiro; esquema teria sido alimentado por propina em obras da Petrobras e da Transposição do Rio São Francisco
Ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB)(Renato Araújo/Arquivo/Agência Brasil)
A quadrilha alvo da Operação Turbulência, deflagrada nesta
terça-feira, pode ter atuado no financiamento das campanhas
de Eduardo Campos (PSB) à reeleição ao governo de Pernambuco em 2010 e à
Presidência da República em 2014, segundo a Polícia Federal. Esta última foi
interrompida por causa do acidente aéreo que matou Campos, em agosto de 2014,
no litoral paulista. Após o acidente, a ex-senadora Marina Silva (Rede) assumiu
a titularidade da chapa e retomou a campanha presidencial.
As investigações da PF em Pernambuco levantaram
indícios do funcionamento de um esquema que envolvia dezenas de contas
bancárias e empresas, a maioria de fachada, para lavar dinheiro de atividades
ilegais. Parte dos recursos teria vindo de esquemas de corrupção na Petrobras e
nas obras de transposição do Rio São Francisco. De acordo com a PF, o grupo
movimentou cerca de 600 milhões de reais em seis anos.
"O envolvimento do ex-governador não está sendo
alvo das investigações, mas podemos afirmar, com base em colaborações premiadas
e no compartilhamento de provas que tivemos com outros inquéritos, que as
campanhas vinculadas ao ex-governador foram favorecidas ou pelo menos tiveram
recursos que vieram de empresas apuradas hoje na Operação Turbulência",
afirmou delegada da PF Andréa Pinho. "Nós detectamos o envolvimento de
políticos, pelo menos no sentido de serem beneficiários de recursos. Agora não
posso alegar que apenas políticos faziam uso dele. Acredito que, na verdade,
seja bem mais amplo", completou.
Os empresários acusados de serem os líderes da
organização foram presos preventivamente entre a madrugada e a manhã desta
terça-feira. São eles: João Carlos Lyra Pessoa de Melo Filho, Eduardo Freire
Bezerra Leite, Apolo Santana Vieira e Arthur Lapa Rosal. Lyra e Apolo seriam os
donos do jatinho que transportava Eduardo Campos durante a campanha de 2014.
O delegado Daniel Albuquerque, cedido da PF de
Alagoas para contribuir na investigação, afirmou que o dinheiro circulava por
várias contas e empresas para que ele se "distanciasse de sua origem,
provavelmente ilícita".
Lava Jato - Para colher evidências contra o grupo de
empresários, a equipe da Operação Turbulência cruzou dados com outros
inquéritos da Polícia Federal, entre eles três ligados à Operação Lava Jato.
Dois estão no Supremo Tribunal Federal (STF) e um segue na Justiça Federal em
Curitiba (PR). Um dos inquéritos no Supremo relaciona os investigados da
Operação Turbulência ao suposto recebimento de doação ilegal para a campanha de
Eduardo Campos em 2010. A pessoa que teria buscado esses recursos, conforme os
investigadores, seria o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), ex-ministro
da Integração de Dilma Rousseff (PT).
A investigação aponta ainda que a OAS, uma das
principais empreiteiras enroladas no petrolão, teria pagado 18,8 milhões de
reais a uma das empresas usadas para comprar a aeronave em Campos morreu.
Nesta terça, a PF também cumpriu 33 mandados de
busca e apreensão. Foram apreendidas três aeronaves - dois helicópteros e um
avião - avaliadas em 9 milhões de reais, além de 10.000 dólares apreendidos com
Eduardo Leite, que viajaria para Miami e desembarcava com João Carlos Lyra, em
São Paulo, quando foi detido. O bloqueio de contas e bens também está sendo
realizado pela Polícia Federal.
Entre as empresas investigadas está uma com sede no
Uruguai, cujo dono é Oscar Algorta Raquetti, citado na Operação Lava Jato por
ter ajudado o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró a
lavar dinheiro na compra de um apartamento de 7,5 milhões de reais em 2009.
"Chamou a atenção que no mesmo endereço dela
existem 180 outras empresas, então há indicativo de que sejam de fachada. Em
segundo lugar ela integra o quadro social de uma empresa sediada em Goiás que
também está sendo alvo de investigação e que também não funciona na prática. A
despeito disso, ela possui movimentações milionárias, que tem como
beneficiários, via de regra, os principais integrantes da organização
criminosa", detalhou a delegada Andréa Pinho.
(Com Agência Brasil e Estadão
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